Loading...
ConcertosReportagens

REPORTAGEM – Dia 07 – Noite dos Reis da Bazuuca: É como dizer “bom filho a casa torna”

O Porto encontrava-se inundado, mas em Braga a chuva levava a que o Lustre fosse um misto de botas encharcadas e casacos no bengaleiro. Tal como a chuva, qualquer má disposição ficava à porta.

Para marcar a minha estreia enquanto repórter, comecei a noite a perder o concerto de Homem em Catarse e 90% do set dos OCENPSIEA (escrevam da forma como vos aprouver, já que até vários jornalistas têm dificuldade em pronunciá-lo), chegando ainda a tempo de abanar o corpo ao som da “Dança Teixeira”. Nos escassos minutos em que tive oportunidade de os ouvir, fiquei com pena de não ter entrado mais cedo no recinto. Mais oportunidades virão, tenho a certeza.

Indo ao encontro do que se passava no palco Salão Mozart, era a vez da carismática ISA LEEN, o novo projeto de Rita Sampaio, que conhecemos de outras andanças tais como IVY e dos Grandfather’s House. Subindo ao palco com uma t-shirt do álbum Shabrang da Svedaliza, rapidamente, e num estilo muito próprio, levou o público a acompanhar as suas músicas através da dança que se presenciava no espaço circundante. Apesar de irrepreensível no seu instrumental, achei que o inglês por vezes se tornava ligeiramente inteligível, sendo que até o público que me rodeava reagiu muito melhor durante a performance do single “água-mãe” (um bop, digamos). Não sei o que o futuro nos reserva, mas sinto que o consenso geral é de que existe um futuro animador no que se segue para a artista. Na minha opinião, tem tudo para chegar ao top 3 nacional do género. Um talento que requer atenção.

De volta ao palco Bazuuca, encontrei o Palas e a sua banda sorrindo à nossa espera. Tenho a realçar que, um piscar de olho à Elvis Presley, enquanto se canta sobre saltar à corda devia ser considerado para substituir o hino português nos Jogos Olímpicos. Quão bonito teria sido ver o Nelson Évora a receber a medalha de ouro em 2008 enquanto esta atuação passava nos ecrãs? Definitivamente achei Palas melhor ao vivo do que nas suas edições em estúdio e muito por culpa da animação que lhes parece ser inerente. Em palco, toda a banda tem a energia que eu possuía aos 5 anos quando, depois de uma cansativa tarde na pré-primária, enfrascava cinco suissinhos (de morango, de preferência) e partia em correrias pelos espaços que me permitissem não cair e perder mais dentes.

Saltando novamente (porém não à corda) para o Palco Salão Mozart, e ao estilo do grande compositor, chega-nos St. James Park. Que apesar de nada ter a ver com o Wolfgang do século XVIII, também usa a música para nos levar para outra realidade. A de St. James Park situa-se no imaginário de cada um (o meu seria algures nas vielas da Europa Central), sendo que para lá somos transportados à boleia de um frondoso bigode português. Apesar das falhas técnicas que levaram à breve interrupção da música, os seus talentos ficaram mais do que expostos para quem ainda não o conhecesse.

Num leve passeio entre palcos, e novamente no Palco Bazuuca, chegam-nos os Travo. Se fizermos uma breve pesquisa pelo nome num dicionário on-line, surge-nos a descrição “vestígio ou impressão desagradável”. Obviamente uma total alarvidade em relação à explosão de energia que é apresentado em palco, onde tenho de destacar o vocalista, que de forma maravilhosa encanta o público ao ritmo de dança das suas suíças maiores que o IP3. Honestamente, sou capaz de adotar este estilo para este novo ano que nos sorri. Na minha perspetiva, e estando eles numa posição central, achei que os restantes membros da banda poderiam deixar-se influenciar mais pela forma de estar em palco do seu vocalista, que provoca um verdadeiro tumulto a quem se arrisca a estar nas suas imediações.

Tal como um boomerang, regressamos ao palco onde a escuridão era o tema, mas desta vez para ser encadeados pelos Stereoacid. Possuindo nas suas hordes o vocalista dos Travo, o baixista dos Quadra e o Saxofonista do Palas deveria ser o suficiente para exprimir aquilo que achei do que vi em palco. Como diz um bom amigo que naquela noite se encontrava presente: é de “rachar o bico”. A festa tinha atingido o seu auge da agitação, achava eu.

Com a felicidade de quem vai rever um velho amigo que se havia refugiado no estrangeiro, parti novamente para o palco Bazuuca, onde a multidão se arrumava para obter um ângulo especial para o que se iria passar a seguir. Pelo seu nome, os Bed Legs remontam-nos a um momento familiar em que o gato se escondeu debaixo da cama por medo do fogo de artifício e, como o ouvinte é o mais franzino da sua restante família, teve que se esgueirar e encaixar debaixo daquele potencial antro de pó para apanharmos o bicho em desespero. Mas, ao contrário daquilo que o Tareco achava, debaixo daquela cama não há pó ou sossego. Há música. Há dança. Há crowdsurf com um teto que se vê ao perto. Há tudo o que se pode pedir para fechar um (quase) festival desta magnitude. Há muita coisa que sugiro mudarmos no mundo, mas os Bed Legs não são uma delas. De tão próxima que é a interação com o público, o palco passa a ser fruto da nossa imaginação e não um palanque que os deixa elevados em relação aos pedestres que os admiram. Se estás num concerto dos Bed Legs, deves de instintivamente seguir a máxima deixada pelos Smix Smox Smux em “Kuduru” e (internamente) gritar “Que estás a fazer, pá? Dança, pá!”, talvez daí finalizarem aquele grandioso set com o Dance!, numa ode ao que todos sentíamos e fazíamos inconscientemente.

Para quem, como eu, chega de fora a uma organização destas, uma das primeiras coisas em que repara é o ambiente familiar. Tanto por parte dos organizadores e artistas, mas como pelo público, que se assemelhava a uma reunião de velhos amigos da escola, onde todos estavam por lá abraçados relembrando os bons tempos que as bandas em palco já lhes tinham proporcionado. E por entre todas as pessoas a quem agradecer, há uma que se destaca. Nada mais, nada menos, que o João Pereira. Se os Reis são da Bazuuca, então o João é o Papa que todos respeitam e celebram semelhante capacidade de organização e produção. Um bem-haja a pessoas que dinamizam assim os círculos culturais.   

Um agradecimento também a todos os artistas e ao próprio João, que alinharam nas brincadeiras que lhes sugeri com uma delas a culminar na assinatura de uma carta de Pokémon, como podem ver abaixo:

Noite dos Reis da Bazuuca 2023: carta assinada por João Pereira (Bazuuca), Tiago Sampaio (St. James Park), Rita Sampaio (ISA LEEN), Fernando Fernandes (Bed Legs/Ângela Polícia) , João Vilaça (OCENPSIEA)

Texto por: Nuno Alves

Spread the love
One comment
Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *