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REPORTAGEM – Dia 03 – Wolf Manhattan uivou à casa cheia do Auditório do CCOP

Para evitar o atraso que me fez perder parte dos concertos da Noite dos Reis da Bazuuca, decidi, desta vez, tentar chegar atempadamente ao local do concerto, lutando com unhas e dentes por um dos poucos lugares disponíveis para estacionar naquela zona portuense.

Entrando no CCOP, pela primeira vez, tenho tempo para apreciar os objetos em exposição naquela bela e rústica escadaria, onde no topo se preparava já a merch para o artista que se seguia. No seu interior, o espaço com o palco era acolhedor, relembrando-me de épocas de infância, onde o teatro era ocupação – mas sem mais demoras, era altura de calar os meus pensamentos, porque o concerto estava prestes a começar. “Concerto”, interiorizava eu. Mas não. O que Wolf Manhattan nos estaria prestes a apresentar não seria apenas um concerto, mas um verdadeiro espetáculo no sentido fulcral da palavra.

Comecemos então pelo início (quem diria, não é?), reparo numa enchente de figuras que, por momentos, me deixaram a ponderar se estaria a entrar num episódio de “Happy Tree Friends” e, como se não pudesse melhorar em termos visuais, entre elas, o artista principal pronto para dar show num fato que só posso descrever como “resgatado do armário do Saul Goodman”. Confesso que não consegui gravar o line-up, porém ver todas estas músicas ganharem vida, deu-me um enorme prazer ou não tivesse eu colocado o álbum de estreia do Wolf entre os meus favoritos de 2022 – vê-lo, ao vivo, no concerto de apresentação soube a algo um pouco mais que doce (talvez cerveja).

Wolf Manhattan, Auditório CCOP ® Teresa Montez

Devo deixar um pequeno aviso para quem, por aí, estiver a trabalhar no marketing da Seat: a Wanna Go Back encaixava que nem uma luva numa nova publicidade a um Arona (e que Deus dê descanso ao motor do Arona do meu irmão, que teve a infelicidade de o deixar neste início de ano). Com uma voz a lembrar um jovem Bob Dylan (ou seja, à volta de um milhão de cigarros antes do prémio Nobel), achei que o nosso Wolf entrou em palco um pouco aquém do resto do entretenimento que o rodeava, talvez fruto do nervosismo da estreia, mas que em duas músicas sentiu o calor do público e que foi o suficiente para o inebriar com a energia que o rodeava.

Talvez não seja má ideia frisar a ideia de que: mais do que um concerto, isto foi um espetáculo e gostava, agora, de explicar porquê. Ao longo do concerto deparamo-nos com criaturas em formas de animais (alguns extintos e outros ainda oriundos de espécies por identificar) a invadir o palco com cartazes, somos invadidos (num bom sentido) por citações da história de vida do Wolf por parte de homens vestidos, ao que posso apenas descrever como um funcionário da CP e, leiam com atenção, uma pausa para a entrada de um dançarino de hoola hup! Sem dúvida que a RTP teria a ganhar caso adotasse o Wolf na altura de transmitir o circo de Natal.

Saí do CCOP melhor do que entrei. Mais entretido, sem dúvida, e novamente contemplativo, desta vez, com um comentário que ouvi naquilo a que podemos apelidar apenas de “conversa de urinol”, onde dois senhores (na casa dos 50 a 60) descreviam o concerto como “mesmo fora do baralho”. Desde então, até ao dia em que saiu este artigo, ainda tento decifrar aquilo a que agora chamo de “espectro baralhense”. Deixo-vos com um exemplo musical: Filipe Karlsson e os Conjunto Cuca Monga estariam no mesmo baralho, fosse ele de cartas de mesa ou de UNO.

Quanto ao Wolf Manhattan, não sei ainda muito bem em que baralho o colocar, o que me obriga, de forma relutante, a ter que concordar com o génio do urinol. Espero apenas que tenha lavado as mãos.

Texto por: Nuno Alves
Fotografia: Teresa Montez

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