Qual é a história de crime que fica menos enriquecedora quando o seu começo se dá a bordo de uma travessia transatlântica no famoso Berengaria? Tal como um fósforo, Krueger iluminou o mercado financeiro até ao momento em que se extinguiu, queimando as mãos de todos aqueles que acreditavam no seu milagre multiplicador.
Ivar Kreuger, nascido na cidade de Kalmar em 1880, foi um empresário sueco responsável por uma das maiores fraudes financeiras da história dos mercados. Apelidado de “rei dos fósforos”, Kreuger começou por expandir a empresa familiar de fósforos através de um método agressivo que lhe levou a monopolizar o mercado sueco num bem que era considerado essencial à data.
Contudo os seus planos eram outros. Por entre a cronologia e narrativa delineada por Frank Partnoy, professor da Universidade de Direito da Califórnia, é-nos apresentada uma versão do empresário sueco que, em 1908, juntamente com Paul Toll, criou uma empresa de construção chamada Kreuger & Toll. Rapidamente cresceu na Suécia, destacando-se por cumprir os prazos propostos, oferecendo ao cliente um reembolso caso as obras não estivessem terminadas antes da data acordada. Claro que, para que este objetivo fosse cumprido, quebrava diversos regulamentos nacionais e municipais, obrigando os trabalhadores a realizarem, muitas vezes, obras durante a noite.
Em 1917, cria a Swedish Match (empresa que ainda hoje existe, vendendo produtos de tabaco) e separa a Kreuger & Toll: Toll passa a controlar a empresa de construção (Kreuger & Toll Construction AB) e é desenvolvida uma holding (Kreuger & Toll AB) que passa a ser gerida por Kreuger.
Ao longo das 226 páginas, Partnoy descreve as engenharias e invenções financeiras realizadas por Kreuger, que juntamente com um investimento da J.P. Morgan nos Estados Unidos da América originou um dos maiores impérios financeiros da História Contemporânea, conseguindo sempre convencer os seus auditores a não consultar as suas contas de forma atenta.
Prometendo aos seus investidores retornos superiores aos de Charles Ponzi, um escândalo que acontecera poucos anos antes, ninguém questionava os seus relatórios financeiros. A estratégia era simples: cada ronda de investidores servia para pagar os dividendos prometidos aos anteriores.
O seu império continuou a crescer, monopolizando o mercado de fósforos em diversos países, abrangendo quase todos os continentes. Porém, e como o leitor pode verificar nesta edição da editora Public Affairs, foi devido ao crash da bolsa nos anos 20 que começaram a surgir as brechas naquele que era o investimento mais sólido do mercado mundial. No espaço de poucos anos e apesar de já estar em reuniões (tendo mesmo vindo a realizar alguns) para empréstimos monetários a países em crise, Kreuger começou a não ter meios para pagar os dividendos de mais de 20%.
Em 1932, antes de uma reunião em Paris que poderia pôr em risco todo o seu legado, Kreuger suicida-se. Sem o main man das operações, rapidamente veio à luz a organização dos seus esquemas, cujo buraco financeiro levou a que a revista Financial Times, em 1984, o incluísse no seu Top 5 de maiores crimes financeiros da história.
texto por: Nuno Alves